O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) inaugurou em abril duas novas varas do Tribunal do Júri. A iniciativa era a parte que cabia ao TJPE no esforço conjunto dos poderes Executivo e Judiciário no combate à violência. De abril a agosto deste ano, ocorreram no Recife 442 homicídios. No mesmo período, as duas novas varas realizaram apenas dois julgamentos. Na verdade, até hoje, a 3ª Vara não realizou nenhuma sessão por falta de um juiz titular. Os julgamentos ocorridos foram apenas na 4ª Vara do Júri.O quadro de funcionários das duas novas varas só foi preenchido há dez dias. A 4ª Vara do Júri tem um juiz titular, um promotor e uma defensora pública. Por isso, além dos dois julgamentos em agosto conseguiu realizar outros três em setembro. Já na 3ª Vara, o juiz Pedro Odilon, originalmente designado titular, está respondendo como auxiliar na Corregedoria do TJPE. Não há defensor público e o representante do Ministério Público muda mensalmente em sistema de rodízio.
“O ideal seria que uma vara do Júri tivesse um juiz titular e um auxiliar. Enquanto um está em sessão, o outro faz a instrução do processo”, avaliou o juiz da 4ª Vara do Júri, Antônio Francisco Cintra.
No último dia 8 de maio, no lançamento do Plano Estadual de Segurança Pública, sentaram à mesma mesa o governador Eduardo Campos, o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Fausto Freitas, e o procurador-geral de Justiça, Paulo Varejão. O recado era que havia ali um pacto para centrar atenções nos crimes de homicídio e as novas varas desemperrariam o gargalo da Justiça e diminuiriam a impunidade. Os números contradizem esse discurso.
Na 2ª Vara do Júri, por exemplo, de janeiro a agosto foram julgados 39 casos, no total. Excluindo os processos de tentativa de homicídio e transferidos de outras comarcas, esse número cai. Isso é, processos de homicídio ocorridos no Recife julgados este ano, na 2ª Vara do Júri, foram apenas 27. A 1ª Vara do Júri da Capital não forneceu os dados para a reportagem.
Enquanto a impunidade persiste, a violência se mantém em alta na capital. De janeiro a agosto de 2006, foram anotados no Recife 712 homicídios. No mesmo período deste ano, o número ficou em 713. Os oito primeiros meses de 2007 foram mais violentos quando se analisam os números de todo o Estado. Este ano, ocorreram 3.144 execuções, contra 3.012 de janeiro a agosto de 2006.
Esses dados mostram um crescimento de 4,3% no número de homicídios, comparando 2006 e 2007. Em maio deste ano, o governo do Estado fixou como meta do Pacto pela Vida uma redução de 12% no total de assassinatos.
CARÊNCIA HISTÓRICA
O presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Fausto Freitas, assegurou que até o fim deste mês um novo magistrado vai assumir a 3ª Vara do Júri. Segundo Fausto Freitas, a falta de juízes na capital se deve às últimas adequações com a promoção de três magistrados para o cargo de desembargador e o remanejamento necessário para preencher essas vagas. Além de uma carência histórica de pessoal.
“Precisaríamos de, no mínimo, mais 50 juízes para atender a estrutura existente hoje no Estado. Criamos juizados especiais, coordenadorias, varas e o nosso corpo de profissionais não acompanhou esse crescimento”, explicou Freitas.
O chefe da Defensoria Pública de Pernambuco, Joaquim Godoy Bené, explicou que não tem como deslocar profissionais para a 3ª Vara do Júri, por absoluta falta de efetivo. Bené acrescentou que somente com a nomeação dos concursados remanescentes será possível atender os casos mais graves de falta de defensores. No núcleo da Defensoria da Boa Vista, por exemplo, já foram 17 profissionais e hoje apenas dois acumulam todo o trabalho.
“Há ainda oito concursados que aguardam nomeação e só quando eles forem efetivados é que poderemos preencher as vagas mais urgentes”, concluiu Joaquim Godoy Bené.

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