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14 de mar. de 2007

Artigo: A culpa é de Bush

Pouco após a invasão do Iraque, o presidente dos Estados Unidos afirmou que o Iraque, juntamente com o Irã e a Coréia do Norte fariam parte do "Eixo do Mal" que precisava ser combatido pela humanidade.

Interessante notar que a ação irresponsável e ilícita do governo americano na invasão do Iraque favorece politicamente qualquer conduta dos governos iraniano e norte-coreano no sentido de impedir fiscalizações internacionais relacionadas ao desenvolvimento de armas nucleares, ou ao enriquecimento de urânio.

É evidente que qualquer governante medianamente inteligente, após os fatos que resultaram na invasão ilícita do Iraque por tropas americanas e ao fim e ao cabo com a morte de Saddam Hussein por enforcamento, não obedecerá a mandamentos da agência internacional de energia atômica ou de qualquer outra agência internacional. Se os atestados dados por agência internacional de que no Iraque não havia armas de destruição em massa em nada serviram para evitar o ataque americano, que segurança estes governos terão quanto aos arroubos missionários do Sr. George W. Bush?

Se as ofensas aos direitos humanos praticadas pelo próprio Estado americano em Guantâmano, e pelo Estado de Israel na Palestina, estas já de há muito condenadas pela ONU, são aceitas passivamente pelos Estados Unidos, que autoridade moral legitima esse país a iniciativas de polícia do mundo?

Após a prisão e condenação à morte de Saddam, que por mais que seja merecedor de adjetivações impublicáveis, provadamente contribuiu com as agências internacionais na busca por armas de destruição em massa em seu país até hoje não encontradas, que chefe de Estado e de Governo, permitirá o livre acesso de tais órgãos a informações privilegiadas que certamente serão disponibilizadas aos Estados Unidos para facilitar provável iminente invasão?

A internet, como instrumento de livre circulação de informações e idéias, reduziu bruscamente a manipulação da informação pelo poder econômico e político norte americano. A guerra da informação em relação ao Iraque foi uma guerra perdida desde o seu início simplesmente pelo fato de ter desautorizado completamente as agências internacionais. Se a comunidade internacional legitima uma invasão que se fundamenta em informações contrárias às que foram apuradas pela agências internacionais e que não obteve respaldo do Conselho de Segurança da ONU quem está seguro no mundo?

Como se vê, não é por acaso que os europeus já há algum tempo entendem que os Estados Unidos da América são ameaça maior à paz mundial que os países que fazem parte do chamado "eixo do mal". Numa análise fria, percebe-se, infelizmente, que até os inconcebíveis atos de terrorismo graças aos atos do governo norte americano ganham uma capa legitimidade, pois pode-se afirmar que o terror termina sendo a única alternativa de cidadãos oprimidos por um Estado que não se contenta em matar, mas que ocupa, humilha e sodomiza cidadãos, ex vi Abu Garib e Guatâmano, e ainda explora sinicamente a riqueza de outros países.

Se o Governo americano ao invés de gastar bilhões com armas e com guerras, disponibilizasse tal quantia para educação e formação profissional dos bilhões de miseráveis que existem no mundo, certamente seriam mais eficazes na luta contra o terror e teriam o respeito do mundo. Além do que, tais medidas iriam ampliar o mercado de consumo de suas grandes corporações.

A maioria dos americanos não sabe porque o resto do mundo detesta o seu governo. Mais difícil, contudo, é compreendê-los. Como dito antes, era totalmente previsível e é compreensível a atitude do Governo do Irã comunicada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em 22/02/2007 de que este país não acatou o pedido do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) de suspender as atividades de enriquecimento de urânio.

Depois do malfeito no Iraque, fica difícil, para não dizer impossível, tirar a razão dos argumentos iranianos. E o povo americano terá que conviver com mais uma inconveniente verdade: há um grande culpado não só por tal atitude do Irã, mas principalmente pela autoridade moral com que se reveste aquele país ao não acatar o pedido de suspensão das atividades de enriquecimento de Urânio feita pelo Conselho de Segurança da ONU e este culpado é George W. Bush.

Raul Bradley da Cunha é advogado e professor universitário
rbcadv@uol.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Raul

Parabéns pelo artigo e muito obrigado pela colaboração.

Abs...